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MINHA ESCOLHA PROFISSIONAL
Quando eu tinha 8 anos, meu pai colocou uma lousa verde para eu desenhar na garagem da minha casa. E uma coisa que eu gostava muito de desenhar era casas e plantas de casa. Eu ia na casa das amigas, achava tudo lindo e desenhava.
Eu imaginava as casas que eu queria e desenhava. Sempre estava olhando a revista Casa Claudia (Ed.Abril) e sonhava com aquelas casas. Era uma fantasia infantil, mas na adolescência pensei que já que eu gostava de desenhar casas e olhar a revista, então eu deveria fazer Arquitetura.
Mas não é tão simples assim. Insisti e fui fazer aulas de desenho arquitetônico. Insisti mais um pouco e fiz o vestibular em 1991 para arquitetura.
Tinha prova de desenho arquitetônico eliminatória. Na hora que eu vi a prova foi que percebi que Arquitetura não era para mim.
O currículo de Arquitetura reúne disciplinas de exatas, humanas, artes e design e eu não tenho talento para artes e exatas então tenho pesadelos só de pensar.
Eu estou contando esta história, pois ainda hoje as pessoas escolhem a profissão assim: gosta de decorar- Arquitetura, gosta de animais de estimação- Veterinária, gosta de desmontar coisas-Engenharia, gosta de argumentar-Direito, gosta de desmontar bonecas- Médico, gosta de conversar-Psicologia, etc. E com certeza não é assim que escolhe a profissão.
Eu não tinha informações sobre Arquitetura, não tinha converado com nenhum profissional, não havia feito Orientação Profissional. Se por acaso eu tivesse passado no vestibular eu não teria passado do primeiro bimestre da faculdade.
COMO EU ESCOLHI PSICOLOGIA?
A resposta é muito simples. Aos 17 anos eu comecei a fazer psicoterapia que me ajudou muito, então resolvi fazer psicologia. O máximo que fiz foi conversar com o meu psicólogo sobre isso. Eu não fiz orientação profissional, não pesquisei sobre o curso ou profissão. Só prestar o vestibular de inverno de Londrina e passei.
A minha escolha foi só baseada no exemplo de um profissional que foi importante para mim. Só quando eu entrei na faculdade conheci a grade curricular do curso. Deu muito certo, mas poderia não ter dado.
A escolha não pode ser baseada somente em um fator. Não é nada aconselhável fazer uma escolha baseada na profissão de alguém bem sucedido ou sem fazer pesquisas sobre o curso e mercado.
Eu com 17 anos fiz tudo que eu falo para não fazerem hoje em dia. Não tive ajuda, apoio. Na verdade nem sabia que existia algum tipo de trabalho que ajudava na escolha. Eram outros tempos. Isso faz mais de 30 anos.
A ANGUSTIA DA INDECISÃO
Muitos jovens ficam bastante apreensivos por não conseguirem decidir-se por qual curso escolher. Ficam apreensivos e com razão. Afinal a pessoa já nasce com as expectativas da família do que ele vai ser quando crescer. O jovem sente-se angustiado, confuso, ansioso, diferente e às vezes até desvalorizado por não conseguir escolher a profissão. Mas escolher a profissão é realmente difícil.
Quando chega a hora de escolher qual profissão seguir, o jovem se depara com uma série de questões: qual a profissão que proporcionará felicidade, oportunidade no mercado de trabalho, retorno financeiro? Quais são as profissões do futuro? Será que eu vou gostar da profissão?
O jovem tem que lidar com as angústias e dúvidas próprias da idade e ainda tem que decidir o que vai trabalhar no futuro.
E muitas vezes por causa deste desconforto, o jovem opta por qualquer coisa ou algo que alguém opinou só para sentir um alivio.
Mas este alivio é momentâneo e a angustia volta com mais força depois pois além da dúvida continuar ainda tem a dor de pensar que fracassou na escolha.
TEM DÚVIDAS SOBRE PROFISSÃO? NÃO TEM PROBLEMA, FAZ O TESTE VOCACIONAL.
Atualmente, o processo que ajuda jovens a escolherem a profissão é chamado Orientação Profissional (Orientação Vocacional). Ainda se chama de orientação vocacional pelo hábito, mas vou contar algo que minha professora da pós-graduação de Orientação Profissional me explicou em 2001.
Vocação tem origem no latim “vocare”, que significa “chamar”. Portanto a vocação seria “um chamado à nossa essência, à nossa habilidade natural”.
E em temos de profissão não é assim. Claro que tem algumas pessoas que tem talentos natos, diferenciados, mas a maioria não tem, então será necessário estudar e adquirir habilidades técnicas e comportamentais para poder exercer uma profissão.
Por isso, os psicólogos especialistas orientam para a profissão e não para a vocação. Daí o nome Orientação Profissional.
MAS E O TESTE VOCACIONAL, AINDA EXISTE?
Há 20 anos ou mais, a ajuda para os jovens que tinham dúvidas sobre qual profissão seguir vinha de testes que forneciam os nomes das profissões. Era uma bateria de testes que o jovem respondia de uma só vez, em um dia.
Por isso a ideia errônea que a dúvida profissional será resolvida em um dia somente. No início dos anos 90, na aula de testes psicológicos na faculdade , eu fui submetida a esta avaliação. O resultado foi Direito, Teologia, Pedagogia e Psicologia.
Mas eu já estava na faculdade então não me causou nenhuma angustia. Mas são profissões completamente diferentes.
A avaliação psicológica (aplicação de testes psicológicos) é uma competência do exercício profissional do psicólogo (Resolução CFP 31/2022).
Todos os testes psicológicos usados pelos psicólogos são avaliados e submetidos ao sistema de avaliação dos testes psicológicos (SATEPSI). Estas baterias de testes que eram usados na orientação vocacional antigamente foram consideradas desfavoráveis pelo SATEPSI a partir de 2003. Então não existe mais a orientação vocacional realizada só com “testes vocacionais” em um dia.
E O TESTE VOCACIONAL DE INTERNET FUNCIONA?
Uma avaliação comportamental de qualquer natureza só é válida se houver uma devolutiva de um profissional especializado. Através da devolutiva que o cliente entenderá o propósito daquela avaliação. Isto vale também para instrumentos oferecidos pela internet.
Os “testes vocacionais” oferecidos aleatoriamente na internet não possuem validação cientifica, portanto não ajudam muito na decisão do jovem. Os testes que possuem validação e são reconhecidos pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia), só podem ser aplicados por psicólogos regularmente inscritos no conselho.
Não se deve confiar em tudo que tem na internet. Nem todas as informações são verdadeiras.
Não existe milagre, quem quer escolher bem a profissão precisa comprometer-se com o processo, isto é, procurar autoconhecimento, pesquisar, conversar com pessoas e se não conseguir sozinho procurar ajuda profissional.
COMO É REALIZADA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL ATUALMENTE?
A orientação profissional é uma área da psicologia. Na faculdade eu tive uma disciplina só para estudar orientação profissional. Aqui posso falar do meu trabalho, de uma experiência de 25 anos. É um processo, onde o jovem passa pelas etapas importantes para a escolha profissional. Testes são aplicados como parte do processo.
São testes aprovados e favoráveis pelo conselho federal de psicologia. São avaliados interesses profissionais, competências, personalidade, valores pessoais. Além dos testes citados, uso também jogos e ferramentas que facilitam a escolha, além disso, técnicas de psicoterapia EMDR complementam o processo para trabalhar a autorregulação emocional e ansiedades referentes à escolha, estudos e desempenho nas provas.
AS INFLUÊNCIAS QUE O ADOLESCENTE EXPERIMENTA NA HORA DA ESCOLHA
Pense na sua escolha de carreira, quem foi a maior influência? A escolha profissional tem como base a relação com os outros. São 5 as principais influências:
1. Pessoas que desempenham papel importante na vida do adolescente.
É quando o adolescente se identifica, consciente e inconscientemente, com pessoas que desempenham ou desempenharam um papel importante na vida deles. Um professor, um médico, uma tia ou primo.
2. Família
A família é a referência para o adolescente, inclusive na hora da escolha profissional. Os pais e responsáveis são os primeiros exemplos dos adolescentes em relação à carreira.
A satisfação ou insatisfação dos familiares em relação à família também influencia na hora da escolha profissional. Um adolescente dificilmente escolherá a mesma profissão que os pais se esta os deixa infelizes ou insatisfeitos.
Por isso é tão comum também um adolescente que está inserido em uma família de médicos fazer medicina, por exemplo.
3. Identificação com os amigos
Sim, a opinião dos amigos é muito importante para os adolescentes, e a validação também. Aqui a identificação é parecida com a anterior, porém as vezes a identificação com os pares tem muito mais importância do que o gruo familiar. É comum ver vários adolescentes da mesma turma escolherem a mesma profissão.
4.Mídia
A mídia, principalmente a digital tem feito adolescentes escolherem ocupações que fazem sucesso nas redes sociais.
5.Identificação por gênero
Apesar de lutarmos a tempos pela igualdade de gêneros nas oportunidades ocupacionais, ainda existe quem ache que existe profissões mais femininas e outras mais masculinas.
PANDEMIA, ANSIEDADE E ESCOLHA PROFISSIONAL
Adolescentes que estão fazendo a escolha atualmente vivenciaram a pandemia em um momento muito importante acadêmico e social. Muitos passaram pela pandemia cursando o 9º ano do E.F, ou 1º e 2º ano do E.M. Muitos tiveram prejuízos acadêmicos e de convivência social que juntos com a angústia da dúvida sobre qual profissão seguir tem trazido muito ansiedade e sofrimento para alguns jovens.
O vestibular ou ENEM são provas que exigem muito preparo acadêmico e também emocional. Ansiedade e crenças negativas sobre si mesmo atrapalham o desempenho.
Esta ansiedade e crenças precisam ser trabalhadas para não atrapalhar a preparação e nem o desempenho nas provas.
ESCOLHA PROFISSIONAL E A PREOCUPAÇÃO COM A FELICIDADE
O mundo adulto tem seus altos e baixos, nós sabemos muito bem. Um trabalho, mesmo que seja na profissão que escolhemos e gostamos nem sempre é satisfatório. Mas vamos levando, alternando dias bons com dias ruins.
Nós adultos também sabemos que o sucesso profissional vai muito além da escolha profissional. Para uma vida profissional bem-sucedida, além de escolher uma profissão que gostamos também é essencial o estudo contínuo, as competências soco emocionais, fluência outros idiomas, relacionar-se bem com as pessoas, habilidade em lidar com frustrações e muita coragem para arriscar.
A principal preocupação dos adolescentes quando estão escolhendo a profissão é se vai dar certo, se vão ser feliz com a profissão que escolherem.
O nosso papel como adultos é mostrar para o adolescente que ele é capaz de escolher, de estudar e trabalhar com o que escolheu e se lá na frente a carreira precisar de ajustes ele será capaz também de fazê-lo.
COMO EU AJUDO MEU FILHO OU FILHA A ESCOLHER A PROFISSÃO
Para começar, vamos falar do que não fazer. O que vai atrapalhar, piorar ainda mais a situação.
O QUE NÃO FAZER?
- Impor a sua opinião
Muitos pais fazem planos para os filhos, sonham em vê-los exercer alguma profissão, as vezes aquela que não foi possível para eles próprios. Impor a opinião ou obrigar os filhos a fazerem a faculdade que querem dificilmente funciona. A maioria das vezes gera brigas, frustrações e desistência futura.
- Criticar a escolha
Nem sempre a escolha dos filhos vai estar de acordo com a expectativa dos pais, mas a crítica não é a solução. Em vez de criticar faça perguntas para conferir se esta escolha está baseada na realidade. Exemplo: O adolescente fala que vai fazer direito, pergunte (com calma, sem interrogatório): quais são as suas características pessoais –interesses, competências, valores, que você acha que faz que direito seja a faculdade ideal para você? Quais são as disciplinas da grade horária que mais tem agradam? Quais faculdades você pretende cursar? Em relação a estas faculdades qual é a nota do MEC? Tem laboratórios? Qual a formação dos professores? Onde uma pessoa que se forma em direito pode atuar? Como estão atualmente o mercado de trabalho para que faz direito? Quais são as dificuldades que você pode enfrentar ao se formar em direito? Quais as outras competências (além da formação) que você precisa ter para ter sucesso com direito? Já conversou com algum profissional?
Se o adolescente conseguir responder a maior parte destas perguntas com segurança pode significar que realmente ele sabe o que está escolhendo, então o papel dos pais é acolher e ajudar.
No entanto, se não sabe responder nada, a escolha pode ter sido feita no “achismo” e o adolescente precisa de ajuda para uma decisão mais acertada.
- Deixar a escolha totalmente nas mãos do adolescente
Não é bem assim. Nesta idade, os adolescentes ainda estão imaturos em sua identidade vocacional e muitas vezes acabam optando por uma faculdade pois entrar em contato com a dúvida causa muita angústia. Dificilmente um jovem vai escolher uma profissão sem angustia. Se foi extremamente fácil desconfie. Aqui vale também as perguntas citadas no item 2.
O que ele escolher está bom para mim!
COMO OS PAIS PODEM AJUDAR
O jovem, para conseguir escolher uma profissão, precisa ter alcançado a maturidade para a escolha profissional, e esta é independe da idade.
A maturidade profissional está relacionada a 3 fatores:
1- ATITUDES FRENTE A ESCOLHA PROFISSIONAL
O quanto o adolescente entende que depende dele a escolha profissional, o quanto ele se influencia com a opinião dos outros. Pessoas mais seguras em relação a si mesmas e suas atitudes e que conseguem entender que cada escolha tem consequências e que a escolha é uma decisão pessoal e intransferível tem mais sucesso em relação a este aspecto. Aqui é um trabalho realizado desde a infância pelos pais, valorizando a autonomia e segurança nas tomadas de decisão.
2- CONHECIMENTO DA REALIDADE SOCIOPROFISSIONAL E ESCOLAR
Desde criança os pais já podem iniciar conversas sobre profissão. Ensinar as crianças a observarem todas as profissões e a importância de cada uma. Incentivar a conversa com pessoas da família que exercem diferentes tipos de profissões, o que fazem, como adquiriram a experiência, o que estudaram? Contar sobre as próprias escolhas, experiências, história. Se possível visitar faculdades, centros de estudos, feiras e museus que estão relacionados de alguma maneira com profissões.
3—AUTOCONHECIMENTO
Ajudar o adolescente a conhecer os diferentes aspectos de sua personalidade, interesses, valores, habilidades. Os pais podem fazer isso observando e conversando com o jovem. Neste aspecto pode ser que os pais precisem procurar ajuda de um psicólogo especializado em orientação profissional para o processo de orientação profissional.
RESUMINDO- O QUE OS PAIS PODEM FAZER PARA AJUDAR O ADOLESCENTE NA ESCOLHA PROFISSIONAL?
As atividades são para ser realizadas junto com o adolescente.
- Pesquisar as profissões- características e mercado de trabalho
- Visita à universidades e faculdades
- Conversas com profissionais
- Participar de atividades escolares sobre profissão
- Procurar ajuda de um psicólogo caso o adolescente não consiga escolher sozinho
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Claudia Carraro-Psicóloga- CRP 0652299-0
Especialista em psicologia clínica pelo CRP-SP
Psicoterapeuta de EMDR e especialista em carreiras