Por que o estímulo bilateral é essencial no EMDR? Entenda como ele ajuda o cérebro a processar traumas
Por que o estímulo bilateral é essencial no EMDR?

O EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Meio dos Movimentos Oculares) é uma abordagem psicoterapêutica criada pela psicóloga Francine Shapiro. nos anos 80. Essa abordagem é indicada para pessoas que sofreram traumas, perdas, ansiedade, fobias, situações de estresse intenso e ainda reagem como se o evento estivesse acontecendo no presente. Também é usada em situações de performance acadêmica e profissional.
Durante as sessões, o psicólogo ajuda o paciente a acessar lembranças perturbadoras enquanto utiliza estimulação bilateral, ou seja, um estímulo que alterna entre o lado direito e o lado esquerdo do corpo ou do campo visual.
Quais são os tipos de estímulos bilaterais

O EMDR pode usar diferentes formas de estimulação:
– Movimentos dos olhos: o paciente acompanha com o olhar um ponto, luz ou o dedo do terapeuta indo de um lado para o outro.
– Sons alternados: estímulos auditivos que se alternam entre os ouvidos, como bipes suaves ou tons de fone de ouvido.
– Toques táteis: vibrações alternadas nas mãos, ombros ou joelhos, feitas com dispositivos ou pelo próprio terapeuta.
Essas três formas produzem o mesmo efeito: ativar o cérebro de modo alternado, permitindo que memórias presas sejam processadas.
O que o estímulo bilateral faz no cérebro

O estímulo bilateral atua como um “comando” que ativa os dois hemisférios cerebrais ao mesmo tempo, criando equilíbrio entre emoção e raciocínio.
Durante o processo, acontecem várias coisas importantes no cérebro:
1. Ativação alternada dos hemisférios : o movimento dos olhos estimula as conexões entre o lado racional e o lado emocional.
2. Redução da ativação da amígdala : a área do cérebro ligada ao medo e ao alarme emocional diminui sua atividade.
3. Maior comunicação com o hipocampo e córtex pré-frontal : essas regiões ajudam o cérebro a perceber que o evento traumático pertence ao passado.
4. Aumento da carga de memória de trabalho : lembrar do trauma e, ao mesmo tempo, seguir os estímulos, ocupa o cérebro e faz a lembrança perder força.
O resultado é que a memória traumática deixa de provocar a mesma reação intensa e passa a ser lembrada com mais neutralidade e compreensão.
A relação entre o EMDR e o sono REM

Francine Shapiro, criadora do EMDR, comparava o processo de reprocessamento com o que acontece durante o sono REM, fase do sono em que os olhos se movem rapidamente.
Durante o sono REM, o cérebro organiza as memórias do dia, processa emoções e integra experiências. Da mesma forma, no EMDR, os movimentos bilaterais estimulam o cérebro a processar informações que ficaram “presas”, permitindo que sejam reorganizadas e armazenadas de forma saudável.
Por que o estímulo bilateral é essencial no EMDR
Sem o estímulo bilateral, o cérebro tende a ficar “preso” na lembrança dolorosa. O estímulo alternado força o cérebro a sair da repetição e iniciar o processamento. É o que permite que a pessoa pense no trauma sem sentir o mesmo peso emocional, e passe a ver o acontecimento sob uma nova perspectiva.
O EMDR não apaga memórias, mas ajuda a transformá-las de lembranças cheias de dor para fatos do passado que podem ser lembrados com serenidade.
Resultados observados com o EMDR
Os resultados mais comuns relatados por pacientes incluem:
– Redução de ansiedade, medo e reações físicas intensas.
– Sensação de alívio e clareza mental.
– Maior calma ao lembrar do evento.
– Novas percepções e significados sobre o que aconteceu.
Conclusão
O estímulo bilateral é a chave do EMDR, pois ativa o cérebro de forma integrada, diminui o alarme emocional e permite que o sistema natural de processamento volte a funcionar. Assim, experiências antes dolorosas podem finalmente ser digeridas e transformadas em aprendizado e força emocional.
Você já conhece a psicoterapia EMDR?
Entre em contato pelo WhatsApp (12) 98710-0431
Claudia Carraro
Psicóloga – CRP 0652299-0
Terapeuta certificada em EMDR e Supervisora em Formação
Fontes científicas consultadas
LEE, C. W.; CUIJPERS, P. A meta-analysis of the contribution of eye movements in processing emotional memories. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, v. 44, n. 2, p. 231–239, 2013.
PAGANI, M.; HOGBERG, G.; FERNANDEZ, I. Neurobiological correlates of EMDR therapy. European Review of Applied Psychology, v. 63, n. 2, p. 65–74, 2013.
SHAPIRO, F. Eye Movement Desensitization and Reprocessing: Basic Principles, Protocols, and Procedures. New York: Guilford Press, 2001.
VAN DEN HOUT, M.; ENGELHARD, I. How does EMDR work? Journal of Experimental Psychopathology, v. 3, n. 5, p. 724–738, 2012.
VAN VEEN, S. C. et al. Eye movement desensitization and reprocessing therapy for posttraumatic stress disorder: A randomized controlled trial of eye movements versus a fixed visual task. European Journal of Psychotraumatology, v. 13, n. 1, 2022.